sexta-feira, 15 de agosto de 2008

o cabeço

O cabeço"

Lá no cimo da chapada
O cabeço se lamenta...
Pede a terra bem lavrada
Para o trigo que se aventa...

I
Bem vistoso, lá no alto,
Dando poiso a um chaparro...
Um cabeço algo bizarro,
Que a natura fez planalto...
Cheira o medo do asfalto,
Ameaçando a velha estrada...
O chilrear da passarada,
Faz do pranto suas raízes...
Andam tristes as perdizes
Lá no cimo da chapada...

II
Desperta com as madrugadas,
No silêncio e no descanso...
Ao chegar um pombo manso,
Que se ajeita nas pernadas...
Acamam lebres camufladas,
Com a raposa sempre atenta...
Se a fome a apoquenta,
A sua vida é a sua presa...
E com a lei da natureza,
O cabeço se lamenta...

III
Vai o dia no começo,
Sopra a brisa e muito frio...
Com bichinhos no pousio,
Desfrutando o tal cabeço...
Tem no gaio o seu apreço,
Que aqui tem grande caçada...
A espargueira está plantada,
Num lugar que não se inibe...
E o partir de um triste abibe,
Pede a terra bem lavrada...

IV
Com estampa de imponente,
Junta as pedras num moroço...
E com silvas no pescoço,
Dá sargaços mais à frente...
Como lar vasto e potente,
Brinda o chão da sua ementa...
Tem no rosto que aparenta,
As memórias q´inda guarda...
Quando lembra a abetarda,
Para o trigo que se aventa...


António Prates
(In Sesta Grande)

Um tónico para a vida:

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